Nioaque, a cidade que fica no Centro-Oeste brasileiro e possui pouco mais de 13 mil habitantes, esconde um passado que está marcado em suas rochas: há 140 milhões de anos, o local pode ter abrigado um vale de dinossauros. A partir de pesquisas de paleontólogos do Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro foi possível descobrir que a região era um extenso deserto, com algumas áreas alagadas que abrigavam dinossauros de até seis metros.
As pegadas foram descobertas pela primeira vez em 1990 às margens do rio Nioaque, mas só em 2021, depois de diversas escavações e estudos, os cientistas do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM) conseguiram identificar as espécies e publicaram uma pesquisa no "Journal of South American Earth Sciences", revista científica dedicada às ciências da terra.
Existem diversas marcas nas rochas que parecem ser de pegadas. No entanto, algumas delas são concreções, que podem ser confundidas com icnofósseis, ou seja, registros geológicos de atividade biológica. "Nesse sítio só existem duas pegadas comprovadas. O restante são concreções, que não necessariamente são pegadas", reforçou Sandro Scheffler, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que participou da pesquisa.
O paleontólogo Rafael Costa da Silva, que também fez parte do grupo, explicou que os estudos não pararam com os primeiros resultados, mas sim, incentivaram a continuidade da pesquisa.
"Nós fizemos moldes de silicone em 2007, depois usamos outras tecnologias de modelagem digital. Aí conseguimos manipular aquele objeto de forma tridimensional. O que é importante pra gente, é preservar a informação que essas pegadas trazem", relatou Rafael.
Apesar das décadas de pesquisas, não foi possível precisar quais espécies viveram em Nioaque na Era Mesozoica, quando os répteis dominavam o ambiente terrestre.
"A gente não identifica espécies de dinossauros a partir de pegadas. A gente identifica o grupo dos dinossauros, nunca a espécie. Isso porque a gente não conhece todas as espécies de dinossauros que existiram. O que a gente conhece, talvez represente 1% ou 5% de todas as espécies que existiram. O que é uma pena porque as pessoas sempre querem saber qual era o dinossauro", completou o paleontólogo.
Mesmo sem a espécie definida, foi possível identificar que os animais eram carnívoros e herbívoros, entre um a até seis metros de comprimento.
Além das pegadas, os pesquisadores também coletaram fósseis de um pequeno invertebrado identificados em uma espécie de toca cavada por animais extintos que viviam em abrigos subterrâneos, chamados de paleotoca.
Rafael também afirmou que as rochas onde estão as pegadas que foram comprovadas são do tipo Botucatu, características de um extenso deserto que cobriu uma ampla área entre o Uruguai e o Mato Grosso do Sul.
"Este arenito foi formado em um grande deserto de dunas. Então depois do deserto, foi se transformando em rochas, com a areia se compactando. O que descobrimos em Nioaque é que nesta época desértica, que hoje é Nioaque, tinha rios. Eram rios e desertos", explicou.